sábado, novembro 19, 2005

arbitrariedade em arquitectura


fábrica, Zaragoza, 1965-1967
No discurso de ingresso na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando (Madrid, Janeiro, 2005), com o título "Sobre el concepto de arbitrariedad en arquitectura", Rafael Moneo prossegue o exame da actual cultura arquitectónica.(1) O seu discurso é um instrumento contundente na análise da arquitectura contemporânea e teoricamente incontornável no panorama actual da escrita disciplinar. A sua investigação cruza aspectos fundamentais: a obra construída de que é autor, o estudo detalhado de outras obras de arquitectura e a reflexão teórica. Rafael Moneo não evita, contornando, a importância de estabelecer uma análise e crítica da arquitectura contemporânea, ou seja, de lhe conferir um valor na sua posição, nem a importância de fundamentar a sua interpretação pela afirmação da tradição disciplinar e do seu processo histórico. A sua hipótese estava já colocada. Em 1985 Moneo identificava a clivagem no entendimento do que é Arquitectura, aspecto que moldará a produção arquitectónica desde as ultimas décadas do século XX. Forma construtiva e forma arquitectónica. É a actual Construção o verdadeiro suporte da Forma? Crítico e discordante da actual tendência em reduzir a formulação da arquitectura à representação dos conflitos culturais da nossa época, centrados em termos como comunicação, imagem ou global, defende que a dimensão tectónica é a origem de uma poética construtiva e a única via para a recusa das estratégias cenográficas presentes em algumas arquitecturas contemporâneas.

Na aula "The Solitude of Buildings" de tomada de posse como Director do Department of Architecture of the Havard University Graduate School of Design (Março, 1985), Rafael Moneo já assinalava esta questão:
"O conhecimento, a maestria, das técnicas de construção estiveram sempre implícitas a uma ideia de fazer arquitectura. (…) Paradoxalmente, é a flexibilidade da técnica que permite aos arquitectos esquecer a sua presença. (…) É algo absolutamente novo. No passado os arquitectos eram simultaneamente arquitectos e construtores. Antes da presente dissolução, a invenção da forma era também a invenção da sua construção. Uma implicava a outra.
(…) Por outras palavras, a arbitrariedade da forma desaparece na construção e ao arquitecto cabe ligar as duas. Hoje a arbitrariedade da forma é evidente nos próprios edifícios, porque a construção foi retirada do jogo do desenho da arquitectura. Quando a arbitrariedade é tão claramente visível nos edifícios, a arquitectura é morta; aquilo que julgo ser o mais importante atributo da arquitectura desapareceu." (2)

Em 1999, Rafel Moneo escreve "Paradigmas fin de siglo: Los noventa, entre fragmentación y la compacidad" onde identifica a fragmentação como metáfora do mundo contemporâneo…. Para Moneo esta ideia remete para outra ideia, mais geral que reclama um mundo sem forma, caracterizado pela fluidez, ausência de fronteiras, de permanente mudança, e onde a acção é mais importante que qualquer outra qualidade. A acção é considerada como um valor em si mesmo.
O panorama da arquitectura contemporânea é impreciso (no seu sentido figurado e literal), interessando-se por formas rasgadas e fragmentadas ou por texturas, artifícios e reflexos. A própria ideia de edifício é questionada. (3)

(1) Moneo, Rafael, "Sul concetto di arbitrarietà in architecttura", Casabella, 735, 2005, pp.22-33
(2) Moneo, Rafael, "The solitude of Buildings", 1985 [policopiado, Havard University Graduate School of Design]
(3) Moneo, Rafael, "Paradigmas fin de siglo: Los noventa, entre fragmentación y la compacidad", Arquitectura Viva, 66, 1999, p.17-24